Logo ao entrar na maternidade em trabalho de parto, a mulher tem as veias puncionadas para a introdução de soro ou medicamentos. O soro é para hidratar e alimentar, já que a parturiente é impedida de beber ou comer. Em seguida, na triagem, é feito o exame de toque para medir a dilatação. O exame é repetido a cada hora. Se o andamento não segue de acordo com o esperado, injeta-se a ocitocina sintética (hormônio que provoca as contrações), estoura-se a bolsa amniótica manualmente e são feitas massagens de distenção do períneo. No momento do expulsivo, a mulher é colocada deitada, de costas, em posição ginecológica. É orientada a fazer força continuamente. A episiotomia (corte na região genital) é realizada. Assim que a cabeça nasce, o bebê é puxado, levado para longe da mãe para ser aspirado e limpo.
Essa é a rotina de um parto vaginal nos hospitais do Brasil. No entanto, os procedimentos considerados padrão aqui estão longe das evidências científicas e das recomendações da própria Organização Mundial da Saúde. Conhecê-las é fundamental para a elaboração de um plano de parto coerente com a intenção de prover o melhor para a mãe e para o bebê.
Segundo a OMS:
Condutas que são claramente úteis e que deveriam ser encorajadas
– Plano individual determinando onde e por quem o parto será realizado, feito em conjunto com a mulher durante a gestação, e comunicado a seu marido/ companheiro e, se aplicável, a sua família.
– Avaliar os fatores de risco da gravidez durante o cuidado pré-natal, reavaliado a cada contato com o sistema de saúde e no momento do primeiro contato com o prestador de serviços durante o trabalho de parto e parto.
– Monitorar o bem-estar físico e emocional da mulher ao longo do trabalho de parto e parto, assim como ao término do processo do nascimento.
– Oferecer líquidos por via oral durante o trabalho de parto e parto.
– Respeitar a escolha da mãe sobre o local do parto, após ter recebido informações.
– Fornecimento de assistência obstétrica no nível mais periférico onde o parto for viável e seguro e onde a mulher se sentir segura e confiante.
– Respeito ao direito da mulher à privacidade no local do parto.
– Apoio empático pelos prestadores de serviço durante o trabalho de parto e parto.
– Respeitar a escolha da mulher quanto ao acompanhante durante o trabalho de parto e parto.
– Oferecer às mulheres todas as informações e explicações que desejarem.
– Não utilizar métodos invasivos nem métodos farmacológicos para alívio da dor durante o trabalho de parto e parto e sim métodos como massagem e técnicas de relaxamento.
– Fazer monitorização fetal com ausculta intermitente.
– Usar materiais descartáveis ou realizar desinfeção apropriada de materiais reutilizáveis ao longo do trabalho de parto e parto.
– Usar luvas no exame vaginal, durante o nascimento do bebê e na dequitação (expulsão) da placenta.
– Liberdade de posição e movimento durante o trabalho do parto.
– Estímulo a posições não supinas (deitadas) durante o trabalho de parto e parto.
– Monitorar cuidadosamente o progresso do trabalho do parto, por exemplo pelo uso do partograma da OMS.
– Utilizar ocitocina (hormônio que provoca as contrações do útero) profilática na terceira fase do trabalho de parto em mulheres com um risco de hemorragia pós-parto, ou que correm perigo em consequência de uma pequena perda de sangue.
– Esterilizar adequadamente o corte do cordão.
– Prevenir hipotermia (baixa temperatura) do bebê.
– Realizar precocemente contato pele a pele, entre mãe e filho, dando apoio ao início da amamentação na primeira hora do pós-parto, conforme diretrizes da OMS sobre o aleitamento materno.
– Examinar rotineiramente a placenta e as membranas.
Condutas claramente prejudiciais ou ineficazes e que deveriam ser eliminadas
– Uso rotineiro de enema (lavagem intestinal).
– Uso rotineiro de raspagem dos pelos púbicos.
– Infusão intravenosa rotineira em trabalho de parto.
– Inserção profilática rotineira de cânula intravenosa.
– Uso rotineiro da posição supina (deitada) durante o trabalho de parto.
– Exame retal.
– Uso de pelvimetria radiográfica (radiografia da pelve).
– Administração de ocitócicos (ocitocina ou derivados) a qualquer hora antes do parto de tal modo que o efeito delas não possa ser controlado.
– Uso rotineiro da posição de litotomia (posição ginecológica, deitada com as pernas elevadas por apoios) com ou sem estribos durante o trabalho de parto e parto.
– Esforços de puxo prolongados e dirigidos (manobra de Valsalva) durante o período expulsivo.
– Massagens ou distensão do períneo durante o parto.
– Uso de tabletes orais de ergometrina (medicamento que provoca a contração do útero) na dequitação para prevenir ou controlar hemorragias.
– Uso rotineiro de ergometrina parenteral na dequitação (expulsão da placenta).
– Lavagem rotineira do útero depois do parto.
– Revisão rotineira (exploração manual) do útero depois do parto.
Condutas frequentemente utilizadas de forma inapropriadas
– Método não farmacológico de alívio da dor durante o trabalho de parto, como ervas, imersão em água e estimulação nervosa.
– Uso rotineiro de amniotomia precoce (romper a bolsa d’água) durante o início do trabalho de parto.
– Pressão no fundo uterino durante o trabalho de parto e parto.
– Manobras relacionadas à proteção ao períneo e ao manejo do polo cefálico no momento do parto.
– Manipulação ativa do feto no momento de nascimento.
– Utilização de ocitocina rotineira, tração controlada do cordão ou combinação de ambas durante a dequitação.
– Clampeamento (uso de grampo para interromper o fluxo sanguíneo) precoce do cordão umbilical.
– Estimulação do mamilo para aumentar contrações uterinas durante a dequitação.
Condutas frequentemente utilizadas de modo inadequado
– Restrição de comida e líquidos durante o trabalho de parto.
– Controle da dor por agentes sistêmicos.
– Controle da dor através de analgesia (anestesia) peridural.
– Monitoramento eletrônico fetal
– Utilização de máscaras e aventais estéreis durante o atendimento ao parto.
– Exames vaginais freqüentes e repetidos especialmente por mais de um prestador de serviços.
– Correção da dinâmica com a utilização de ocitocina.
– Transferência rotineira da parturiente para outra sala no início do segundo estágio do trabalho de parto.
– Cateterização (introdução de sonda) da bexiga.
– Estímulo para o puxo quando se diagnostica dilatação cervical completa ou quase completa, antes que a própria mulher sinta o puxo involuntário.
– Adesão rígida a uma duração estipulada do segundo estágio do trabalho de parto, como por exemplo uma hora, se as condições maternas e do feto forem boas e se houver progresso do trabalho de parto.
– Parto operatório (cesariana).
– Uso liberal ou rotineiro de episiotomia (corte na região vaginal).
– Exploração manual do útero depois do parto.
Fonte: UNA-SUS